Amor e força
O grande amor tem força e é duro. O amor barato é macio, não suporta o sofrimento. Às vezes podemos observar isso aqui. Alguns ficam profundamente tocados pelo trabalho, também no público e começam a soluçar. Depois, alguém que não aguenta isso vai até essas pessoas e as consola. Não as consola por necessitarem de consolo, consola-as porque ele mesmo é que precisa ser consolado.
Esse amor é fraco, interfere na alma dos outros sem respeito por aquilo que serve à sua alma. Temos que aprender a suportar a dor dos outros sem interferir. Na Bíblia existe um bom exemplo para isso. Jó foi espancado por Deus. Todos seus filhos morreram. Coberto de feridas, ele estava sentado num monte de lixo. Depois vieram seus amigos para consolá-lo. O que fizeram? Sentaram-se a certa distância dele e durante sete dias não disseram nenhuma palavra. Isto foi amor com força. Se um médico fizer uma operação e chorar durante a operação, certamente é um médico sensível, mas não pode mais operar. Para podermos ajudar diante de um grande sofrimento temos que nos deslocar para um nível superior. Nesse nível superior estamos sem emoção, porém plenos de amor. O médico que faz uma boa cirurgia não mostra nenhuma emoção, mas está repleto de amor e, assim, pode operar. Um ajudante que realmente quer ajudar tem que suportar a dor sem deixar que o puxem para dentro desse sofrimento. Se suportar a dor, transmite força ao outro, mesmo não interferindo. Quem tem um problema, também pode suportá-lo. Apenas a pessoa que tem o problema pode suportá- lo. Se uma outra pessoa quiser suportar esse problema no seu lugar, ele se torna fraco. Podemos observar isso em nós. Eu faço essa experiência em mim mesmo: quando vejo algo no outro e quero dizê-lo a ele de qualquer forma, mas me contenho e não digo nada, isto exige minha força. A força que me custa para que eu me contenha, converte-se em força para ele. De repente aquilo que queria lhe dizer vem à sua mente e, como veio à sua mente, ele pode tomá-lo. Quando não aguento e quero dizer-lhe de qualquer forma, sinto-me aliviado por ter dito, mas tirei a sua força. Mesmo se aquilo que queria lhe dizer estiver certo, ele não pode tomá-lo, por vir de fora. Então, esse ato de conter-se é a base do respeito e do amor.
Bert Hellinger em O amor do espírito